Ignácio Escolar, meu blogueiro espanhol preferido, publicou mais um texto que não ficaria muito deslocado se aplicado à realidade brasileira. Traduzo então, anotando minhas observações entre colchetes [ ]:
O progresso adequado da Espanha
21/06/2009, 20:14
Na Espanha [como no Brasil] os impostos são progressivos. Um empregado desconta até 43% de seus rendimentos. Um empresário deve pagar até 30% dos seus lucros. E os muito ricos pagam 1% através de uma SICAV (Sociedade de Investimento de Capital Variável). Em 2005, depois que alguns inspetores da Fazenda [equivale aos nossos fiscais da Receita Federal] investigassem as SICAV, onde estão guardadas as grandes fortunas, o Congresso votou em regime de urgência e quase por unanimidade que a CNMV [equivale à brasileira CVM, Comissão de Valores Mobiliários] e não a impertinente Receita Federal ficasse responsável por investigar (modo de dizer) essas sociedades. Na Espanha os impostos são progressivos: quanto mais você tem, menos paga. E assim progressivamente.
Na Espanha os impostos são tão progressivos que Cristiano Ronaldo vai ser tributado na faixa de 24% do imposto de renda, como se fosse um mileurista. “Isso se justificou à época porque havia profissões com uma vida útil muito curta”, explicou Elena Salgado no El País. A vice-presidente [e Ministra da Economia] está equivocada: esse nunca foi o argumento. A burla galáctica vem de uma reforma fiscal de Aznar (que Zapatero não revogou) para que os estrangeiros que venham trabalhar na Espanha só paguem a alíquota de 24%, seja qual for seu rendimento ou profissão, de jogador de futebol a encanador. Ficou para a história como “Lei Beckham” porque o jogador inglês foi o primeiro a beneficiar-se de suas vantagens. O governo de então dizia que isso tornaria as nosas empreesas mais competitivas na caça de talentos estrangeiros. Como talento na Espanha nós temos de sobra – por isso tantos cientistas vão trabalhar fora -, essa ajuda fiscal serviu para contratar esses profissionais tão importantes para a nova ordem econômica baseada no conhecimento e na tecnologia: os jogadores de futebol. E assim progride a economia espanhola, outra vez campeã da Europa.
José María Aznar foi primeiro ministro espanhol até 2004, pelo Partido Popular (modelo para o Democratas), e Zapatero é o atual primeiro ministro, do Partido Socialista Espanhol, que faz um governo de centro-esquerda com concessões frequentes à direita (mais que o governo Lula, para estabelecer um parâmetro de comparação).