Por Allan Patrick
Duas obras de Naomi Klein são fundamentais para entender como o mundo funciona hoje: Sem Logo e A Doutrina do Choque. Na primeira obra, Klein analisa, entre outros assuntos, a extrema precariedade das condições de trabalho nas Zonas de Processamento de Exportação (ZPE), e como essa é uma condição sine qual non para que elas funcionem e prosperem. Na segunda obra, a jornalista canadense mostra como, do ponto de vista dos grandes capitalistas, vivemos numa época de ouro de grandes oportunidades, normalmente associadas a grandes catástrofes, como o Katrina, o Tsunami na Ásia e – mais recentemente – o terremoto no Haiti. Situações nas quais a população fica sujeita à extrema dependência e sem capacidade de se organizar são aproveitadas para a implantação de medidas impopulares, como a expulsão de vilas de pescadores de praias que despertam o interesse de cadeias de hotéis de luxo, a extinção de sindicatos, a remoção de “entulhos” trabalhistas, dentre outras medidas.
Tudo isso para mostrar que só assim é possível entender porque um advogado corporativo americano que trabalha na China (nação mãe das ZPEs) escreve sobre os contatos que teve com um cliente – proprietário de fábricas nômades que operam em ZPEs e migram de país para país de acordo com as vantagens fiscais e trabalhistas – e como ele está “feliz” com as perspectivas de vir a operar alguma de suas sweatshops (fábricas com condições precárias de trabalho) no Haiti. O artigo do blogue do advogado americano é este: Haiti as next China. Est-ce possible?
Veja também:
– O Haiti e a Doutrina do Choque.
– Sem Logo: A tirania das marcas em um planeta vendido.